sexta-feira, 17 de abril de 2009

O incrível pernil assado da Dona Zefa


Em uma cidadezinha do interior havia uma cozinheira muito famosa por fazer o melhor pernil assado do país; seu nome era Zefa. Era conhecidíssima no lugarejo e em toda a região. Sua fama cresceu tanto que extrapolou as fronteiras do estado, chegando ao conhecimento de uma grande indústria de alimentos, que se interessou em adquirir o famoso pernil de Dona Zefa.

Representantes da empresa procuraram-na, negociaram e renegociaram até conseguirem comprar a receita mágica e o direito de comercializarem o nome dela, é claro. Como Dona Zefa não possuisse uma receita escrita do famoso pernil assado, eles deveriam observá-la enquanto preparasse um deles, anotando os ingredientes e o modo de preparar.

Marcaram uma demonstração em sua casa para algumas pessoas dos departamentos envolvidos: marketing, vendas, engenharia de produção, nutrição, compras e comércio exterior. Na data combinada, quando estavam todos prontos, ela começou a preparar um belo e apetitoso pernil, que ficava ainda mais belo diante de toda aquela platéia. Cada tempero, cada gesto, cada palavra, tudo era cuidadosamente anotado e filmado. Porém nada de especial que justificasse a fama daquele pernil. Até aquele momento, nada do que fizera Dona Zefa, era diferente do que faziam as demais assadeiras de pernil do país; os profissionais começaram a se impacientar por não descobrirem a tal fórmula secreta.

Porém, antes de levar o pernil ao forno, aconteceu algo inusitado, Dona Zefa pegou uma faca e cortou as extremidades do mesmo. Ali estava o pulo do gato, digo, o pulo do porco! O segredo era cortar as extremidades do pernil antes de levá-lo ao forno. Entusiasmados, perguntaram a ela a razão de tal procedimento, ao que ela respondeu para espanto de todos:

--- Não sei; minha mãe sempre fazia isto e como eu aprendi com ela, faço a mesma coisa a vida inteira, nunca perguntei nada.

Certos de que estavam diante do grande segredo, perguntaram-lhe se a mãe ainda era viva e se seria possível falar com ela. Diante da resposta afirmativa, lá se foram todos para a casa de Dona Toninha, que ficava na mesma rua. Questionada, Dona Toninha respondeu a mesma coisa que Dona Zefa: havia aprendido com a mãe dela e que não sabia a razão de cortar as pontas do pernil.

Para alívio geral, a mãe de Dona Toninha, portanto avó de Dona Zefa, ainda vivia em uma fazendinha próxima ao lugarejo, e lá se foram em busca do segredo perdido... Dona Sinhá, já com certa dificuldade em ouvir, demorou muito para entender o motivo de tanta gente em sua casa, com tamanho alarde e confusão; mas ao final, respondeu entre gargalhadas:

--- Vocês querem saber por que é que eu cortava as pontas do pernil?
--- Simmmmm, responderam todos.
--- É porque meu forno era muito pequeno e não cabia o pernil inteiro, então eu cortava as pontas dele!... Que segredo que nada...



É muito importante saber a razão pela qual realizamos nossas atividades, as consequências, os benefícios, os riscos. Muitos de nós fazemos parte de uma geração em que era quase proibido perguntar o porquê das coisas, mas hoje, especialmente nas atividades profissionais, isto é inadmissível. Quanto mais soubermos sobre nossos trabalhos ou sobre nossos produtos, maiores chances teremos de sermos profissionais competentes e de sucesso. Quantas vezes, um segredo nada mais é do que desinformação e falta de comunicação. Este é um bom momento para reavaliarmos nossos segredos, nossas receitas e nossos fornos.

Assim agindo, você poderá ser muito mais feliz!

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