sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O apagão humano

Há algum tempo tenho me preocupado com a quantidade de apagões que assolam nosso país. São muitos os tipos de apagões, pelo menos os mais conhecidos: apagão moral, apagão ético, apagão profissional, apagão espiritual, apagão educacional, apagão social; e ainda existe um que tem preocupado um pouquinho as nossas autoridades que é o apagão de energia elétrica. Mas antes de falar destes tsunamis, gostaria de relembrar, de forma resumida, uma história que acalentou minha infância: A roupa invisível do rei, de autoria de Hans Christian Andersen, que ajudará em nossa reflexão:
Havia um rei muito vaidoso, em especial com roupas; gastava seu tempo e dinheiro quase exclusivamente com elas. Sua fama correu outros mundos e um dia apareceram em seu palácio dois malandros (impressionante como até hoje quase todo rei sofre de vaidade crônica e tem uma grande facilidade de atrair malandros para junto de si) se apresentando como tecelões e costureiros de renome, se oferecendo para tecer e costurar para o rei uma roupa tão especial que pareceria quase invisível e que pessoas tolas ou que ocupassem cargos imerecidamente, não conseguiriam enxergá-la em hipótese alguma (já vi isso em algum lugar).

O rei, querendo ser o primeiro a usar tal tecido (quanta diferença!), logo os contratou, pagou adiantadamente e ainda lhes entregou muitos metros de fios de seda e de ouro para tecerem a fazenda especial. Em dois teares começaram a tecer a tal fazenda maravilhosa que ninguém conseguia ver. Para não se passarem por trouxas ou para não denunciarem que exerciam cargos além de suas reais capacidades, as pessoas acabava afirmando que o tecido era lindo, bem trançado, cores muito vivas e desenho original. Até os mais altos conselheiros do monarca foram ver o tecido prodigioso e voltavam fascinados para dar a notícia ao rei. O comentário em todo reino era a nova roupa do rei e as suas características. É claro que todos queriam vê-la...

Uma grande festa com desfile real pelas principais ruas do reino foi organizada. Era importante mostrar as roupas novas do soberano e saber quem estava aquém de seus cargos. Durante o desfile as ruas e praças estavam apinhadas de curiosos; todos olhavam para o rei caminhando pelas passarelas e não viam roupa alguma, mas não querendo mostrar que eram idiotas ou que ocupavam cargos sem méritos, exclamavam:
--- Que roupa linda! Nunca vi nada igual. (ai meu Deus... já vi isso também)
Com esses comentários massageando seu ego e sua vaidade, o rei continuava seu desfile acenando e sorrindo para todos, até que uma criança em sua inocência, gritou do meio do povo:
--- O rei está pelado!

Assim, todos começaram a enxergar a verdade e também começaram a gritar:
--- O rei está pelado...

Mesmo representando um papel tão ridículo e visivelmente aborrecido com o acontecido, o rei contimuou desfilando até voltar ao palácio (também já vi muitas situações parecidas). Procurou os dois farsantes mas eles haviam ficado invisíveis; nunca mais os viu.


Muitas vezes por acreditar que algumas coisas existem, mas apenas em nossas mentes é que elas acabam nos conduzindo a verdadeiros apagões. E pior de todos os apagões, é o apagão humano. Quero exemplificar alguns casos em que por não querer ver a verdade ou por alimentar excessivamente a vaidade pessoal, acabamos criando esses apagões tão perniciosos:
  • Blindar um(a) candidato(a) ante suas responsabilidades e erros para não atrapalhar uma campanha de marketing, é a mesma coisa da roupa do rei. Atitudes assim causam apagões morais e éticos.

  • Um ministro vir a público e afirmar categórico que foi um raio que causou o apagão que afetou 18 Estados brasileiros e 01 país vizinho e ainda afirmar que o assunto está encerrado, é mais um grande apagão moral e ético.

  • Estudantes que ao invés de se prapararem para um futuro melhor preferem se esconder atrás de um tecido que os pais mandam tecer, que parece invisível, e assim constroem um apagão educacional e que no futuro se transformará em grande apagão profissional.

  • Quando nos esportes vejo tantos exemplos de corrupção e no meu time, profissionais pensando só em dinheiro e em suas carreiras meteóricas no exterior, percebo claramente um grande apagão moral e profissional. (Que exemplo...)

  • Quando os pais com a desculpa de não quererem que os filhos passem pelas experiência por que passaram, enchem-nos de mimos exegerados, brinquedos desnecessários e dinheiro fácil, estão criando apagões educacionais, morais, éticos, amorosos e existenciais.

  • Quando vivemos apenas pensando em coisas materiais, sem aprimorar nossa vida espiritual, confundindo o objetivos de nossa existência, estamos criando um apagão de fé.

  • Quando valorizamos apenas o "ter" em detrimento do SER, o apagão de valores já está instalado em nós.

  • Quantos apagões profissionais em tantas empresas! Que desespero dos empresários em encontrar profissionais qualificados! Mas, eles tem sua parcela de culpa por não contribuírem e não exigirem qualificação destes possíveis profissionais.

  • Quantas pessoas, nas empresas, passam a vida vendendo uma roupa de um profissionalismo invisível, que só eles conseguem enxergar, que só a eles é conveniente.

  • Quantos políticos, com apagões morais, tentam impor "verdades" que só eles conseguem enxergar, tentando fazer da população um bando de tolos.

  • Muitos conseguem "ver" esta roupa invisível e os apagões que elas causarão no futuro, mas preferem ficar calados para não se comprometerem e não serem confundidos com outros.

Meus amigos, desta vez creio que eu tenha exagerado um pouco, mas sinto-me bem e espero que o mesmo aconteça com vocês. Neste momento de grandes apagões, temos que analisar as roupagens que estamos vestindo, examinar nossos armários, separar tais roupas aparentemente belas, maravilhosas, porém passageiras, incompatíveis e invisíveis para uma existência melhor.

Importantíssimo rever nossas atitudes de costureiros ou de conselheiros do rei, evitando falsas verdades, falsas atitudes.

Sejamos muito felizes, com roupas lindas, porém reais e visíveis, em especial aos nossos olhos. Evitemos quaisquer tipos de apagões, usando luz de sabedoria, de responsabilidade, de comprometimento, de trabalho, de amor, de fé e de Deus.

Um abração e meus pedidos de desculpas pelo tamanho do post, mas caso contrário ele ficaria invisível, um pouco apagado...


Luiz Arantes.


Nenhum comentário: