sábado, 24 de outubro de 2009

Arrastando mala

Creio que em todas as famílias, existam aqueles casos engraçados envolvendo crianças e quando os adultos se reunem, relembrar tais travessuras passa a ser obrigatório e motivo de muitas gargalhadas.

Comigo não foi diferente. Em minha família, existem muitos casos pitorescos e a maioria me envolvendo, portanto já fui motivo de muitas gargalhadas em reuniões de família. Um dos casos de que mais me lembro das pessoas contarem e que eu tenho uma vaga lembrança, aconteceu quando eu tinha em torno de 04 anos, e ainda morava em uma fazenda em Goiás.

Éramos várias famílias e morávamos todos na sede, juntamente com meus avós paternos. Meu avô também era meu padrinho e declaradamente, meu protetor.

Não se sabe exatamente o motivo, mas o fato é que num dia qualquer, durante o almoço, eu e minha mãe entramos num sério atrito, algo a ver com comida; diante da confusão armada por mim, e as ameaças de minha progenitora, senti que o melhor a fazer seria sair correndo e me esconder no quarto onde meu avô já estava deitado para sua costumeira soneca.

Ao entrar no quarto, fechei a porta e comecei a contar minha versão da história ao meu protetor e as ameças que minha mãe estava fazendo. Após expor minuciosamente toda a confusão e sentir apoio de meu avô, fiquei mais tranquilo e confiante, estava mesmo num porto seguro.

Então, minha mãe que a tudo assistia pela janela, soltou mais uma de suas ameças:

--- Menino, não pense que está seguro aí com seu avô... e pare de "arrastar mala" porque senão eu te pego...

Em minha região, principalmente na zona rural, a expressão "arrastar malas" era o mesmo que contar vantagens, coisa típica dos faroleiros. E era exatamente o que eu estava fazendo, contando vantagens. Como eu ainda não conhecia tal expressão, ao ver debaixo da cama de meu protetor uma grande mala, não pensei duas vezes, comecei a arrastá-la por todos os cantos da casa, chegando a incomodar as pessoas.

Depois de um bom tempo arrastando a velha mala por toda parte, alguém me perguntou o motivo de tal comportamento. Então respondi solenemente:

--- Minha mãe disse que iria me bater se eu arrastasse mala, quero só ver ela tem coragem...

Creio que no restante do dia ninguém mais tenha trabalhado, só preocupados em contar para outras pessoas esta minha besteira. O mais engraçado de tudo isto é que todos os envolvidos se lembram do fato nos seus mínimos detalhes, menos eu. E o pior meus caros amigos, é que nem é tão engraçado assim... concordam? Mas faz parte de minha vida e da história de minha família.





Amigos,


Até hoje eu me policio para não continuar arrastando malas e desafiando as pessoas à minha volta. É muito fácil em nossas vidas, termos tais atitudes: contar vantagens, conversar muito, querer tirar vantagens de fatos sem importância. Há também o risco de fazermos alguma coisa sem sabermos o seu significado, ou pensarmos que sabemos o que estamos fazendo, baseando-nos apenas em nossa inexperiência ou desconhecimento.

Na vida corporativa, não é diferente; é necessário muito controle para não entrarmos nesta sintonia de contar vantagens, de querer humilhar e desafiar os companheiros à nossa volta.

Às vezes, nos escondemos por detrás de possíveis protetores e nos colocamos na posição de provocadores, agressores, contribuindo para piorar o clima organizacional de nossas empresas. Todo cuidado visando um bom relacionamento interpessoal, é bem vindo se quisermos ter à nossa volta, equipes de alta performance.

Que bom que esta expressão está em desuso e hoje, as malas tem rodinhas!



Grande abraço a todos e por favor, sejam muito felizes!
Luiz Arantes.

Um comentário:

Unknown disse...

Gostei muito de sua forma em descrever e escrever, sobretudo como expõe com clareza fazendo com que o leitor entre e participe como se estive presente no ato dos acontecimentos.
Parabéns!