sexta-feira, 12 de junho de 2009

O vendedor atrapalhado


Quando eu tinha dez anos, morávamos em uma grande casa e que também tinha um enorme quintal, palco de tantas artes e travessuras.

Nosso espaço era tão bom que tínhamos em casa um belo pomar: laranjas, mangas, goiabas de várias qualidades, jabuticabas, figos e uvas.

Certo dia, atendendo a uma ordem veemente de minha mãe, colhi algumas laranjas, enchi uma cesta de vime e saí de casa com a recomendação claríssima de "Só-volte-aqui-quando-tiver-vendido-tudo!"

Com argumentos assim tão convincentes, saí para meu primeiro desafio e também primeira experiência em vendas. Na verdade eu estava até empolgado com a idéia. Estacionei minha cesta na calçada de uma máquina de beneficiar arroz, que eram muito comuns naquela época em minha cidade, e comecei a gritar a plenos pulmões:

--- "Olha a larannnnnja! Docinha, docinha! Aproveitem".

Um grupo de "chapas" descarregava um caminhão com enormes sacos de arroz, eram maiores do que eu. Imaginei que eles gostariam de experimentar minhas laranjas. Ao ouvir meus berros, aproximou-se de mim um daqueles descarregadores, parecido com um gigante e perguntou-me com um vozeirão:

---"Mininu, essa laranja é João Nunes?"

Na verdade ele se referia a um tipo de laranja muito doce e comum em nossa região, de origem africana, conhecida como "Jununa" e que algumas pessoas chamavam de "João Nunes". Como eu não conhecia nada de meu produto, nem imaginava que laranja tivesse nome e principalmente porque estava com medo de ser confundido com algum ladrãozinho que tivesse apanhado as laranjas no quintal de um certo João Nunes, respondi com toda classe possível:

---"Não meu senhor, esta laranja não é João Nunes, é Elmo Arantes" (Este é o nome de meu pai, e naquele momento, nada me pareceu mais justo do que batizar as laranjas com o nome dele).

Apesar de terem comprado quase todas as laranjas, fui motivo de piadas por aquela gente durante muito tempo. Após o incidente, acabei ficando amigo daquele gigante e também aprendi uma grande lição. Até os dias de hoje, diante de uma situação inesperada, geralmente me pergunto: Que laranja é esta? O que é que posso aprender com ela? O que me falta aprender sobre ela?

Meus amigos,

Em vendas, temos sempre que conhecer nossos produtos, suas características, suas vantagens e seus benefícios. Um dos maiores erros dos profissionais de vendas, é justamente este que eu cometi em minha infância: apenas peguei minha cesta e pensei que já poderia sair vendendo.

Para mim, "laranja era laranja e mais nada".

Este episódio ajudou-me muito naquela época, mas além dos conceitos de vendas, também aprendi que na vida, mais importante do que não cair, é levantar após uma queda. E que queda eu tive! Hoje, se eu fosse vender laranjas, tenho certeza de duas coisas: a primeira é que sei muito mais sobre laranjas e a segunda é que eu gastaria um tempo bem maior para aprender muito mais sobre elas, antes de me aventurar a vendê-las.

Se quisermos realizar ótimas vendas, procuremos saber muito mais sobre nossos produtos, idéias e serviços. Assim seremos mais felizes vendendo!

Com abraços e votos de sucessos do Luiz Arantes.

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